JUNDIAÍ

Kit Covid tem gerado polêmica e defensores

As vendas de remédios denominados “kit Covid” dispararam. Alguns deles até 700%. Mas alguns especialistas dizem que não têm efeito desejado e podem causar males à saúde. Em Jundiaí, o vereador Madson Henrique dos Nascimento Santos (PSC) tem publicado nas redes sociais defendendo o uso desses medicamentos.

“Não há tratamento precoce para COVID-19. As pessoas estão tomando medicações que acarretam riscos graves à saúde, que debilitam o organismo, facilitando ainda mais a replicação do Novo Coronavírus. Quando realmente são acometidas pela doença, os órgãos já estão fracos, intoxicados e não respondem ao tratamento medicamentoso feito de forma séria e responsável”, ressalta o médico infectologista do Hospital São Vicente de Paulo (HSV) Marco Aurélio.

Os chamados ‘kits COVID’ para tratamento amplamente difundidos em aplicativos de comunicação não consideram os riscos pré-existentes das pessoas, as expondo a novas comorbidades, até mais graves, como a hepatite, doença que acomete o fígado e pode levar à morte, situação registrada em Campinas e São Paulo, recentemente, diz o médico.

A COVID-19 ainda não tem tratamento específico para a doença certificado e reconhecido pela ciência.

Os laboratórios já emitiram comunicados de que esses medicamentos não têm eficácia contra a Covid.

Entidades falam em banir o Kit Covid

Oitenta e uma entidades médicas e científicas brasileiras divulgaram ontem documento em que alertam sobre a gravidade da situação da pandemia de covid-19 no País e defendem, entre outras medidas, o banimento da prescrição e uso dos medicamentos do chamado “kit covid”, que inclui drogas sem eficácia contra a doença, como hidroxicloroquina e ivermectina, mas que segue sendo indicado por alguns médicos e defendido pelo presidente Jair Bolsonaro.

Na terça-feira, o Estadão revelou que a utilização das drogas já levou cinco pacientes à fila do transplante de fígado em São Paulo e está sendo apontado como causa de ao menos três mortes por hepatite causada por remédios. A reportagem também trouxe relatos de efeitos colaterais como hemorragias, pelo uso indevido dessas drogas.

Em boletim do Comitê Extraordinário de Monitoramento da Covid-19, grupo liderado pela Associação Médica Brasileira (AMB) e que reúne diversas sociedades científicas e associações médicas do País, as entidades alertam para a falta de estrutura, insumos e profissionais neste momento da pandemia e ressaltam que as fake news “desorientam os pacientes”. Reafirmam ainda que não existe tratamento precoce comprovado contra a doença.

“Reafirmamos que, infelizmente, medicações como hidroxicloroquina/cloroquina, ivermectina, nitazoxanida, azitromicina e colchicina, entre outras drogas, não possuem eficácia científica comprovada de benefício no tratamento ou prevenção da covid-19, quer seja na prevenção, na fase inicial ou avançadas da doença, sendo que, portanto, a utilização desses fármacos deve ser banida”, diz o texto assinado por 54 sociedades científicas e 27 associações estaduais.

Fase inicial

O documento ressalta ainda o risco do uso indevido dos corticoides e anticoagulantes na fase inicial da doença. Os dois tipos de medicamentos podem ajudar no tratamento da fase mais grave da covid, em pacientes hospitalizados. No início dos sintomas, podem levar ao agravamento do quadro.

“Aos médicos, reafirmamos que o uso de corticoides e anticoagulantes devem ser reservados exclusivamente a pacientes hospitalizados e que precisem de oxigênio suplementar”, destacam as entidades.

Elas recomendam que os pacientes não se automediquem, em especial com corticoides, como dexametasona e predinisona. “Estes fármacos utilizados fora do período correto, especialmente no início, podem piorar a evolução da doença”.

Presidente da AMB, César Eduardo Fernandes reafirma que os melhores estudos sobre o tema, “feitos com metodologia adequada”, não mostraram eficácia. “Em casos raros, podem levar a efeitos colaterais graves”, disse ao Estadão. “A autonomia do médico não confere a ele direito de receitar medicações que não têm comprovação. Muitos fazem isso por acreditar na sua experiência. É uma visão muito equivocada.”

A autonomia médica é o principal argumento do Conselho Federal de Medicina (CFM) para permitir a prescrição desses remédios. Mas o Código de Ética Médica prevê que é vedado ao médico “causar dano ao paciente, por ação ou omissão”. Procurado se vai mudar a orientação, o CFM disse que “se manifestará oportunamente”. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo / Por Fabiana Cambricoli.