Globo lança série sobre Justiça
Quatro prisões em uma única noite de 2009. Uma coincidência que une quatro pessoas de origens diferentes em Recife, cujos efeitos serão sentidos por muito tempo – muito mais do que a pena de sete anos de reclusão a que foram condenados. A razão pela qual cada um foi julgado culpado é questionável. Não pelos crimes em si, mas pelos caminhos que percorreram até o banco dos réus.
Essa história não narra a rotina dos tribunais nem questiona a aplicação das leis. É uma obra que, de maneira demasiadamente humana, propõe uma reflexão sobre o justo na prática, no cotidiano dos personagens envolvidos. É uma discussão que começa sete anos depois da ação principal, quando essas quatro pessoas cruzam os portões da penitenciária após saldarem suas dívidas com a Justiça – se é que elas existiram um dia. “Não é uma minissérie sobre o sistema penal, tratamos sobre o que é justo. São histórias ligadas por um tema e por uma cidade”, explica a autora Manuela Dias.
O sentimento de uma mãe capaz de ir às últimas consequências para vingar a morte de um filho. O desespero no coração de um homem que se vê obrigado a tirar a vida do seu grande amor. A ação da polícia guiada pelo racismo que destrói o futuro brilhante de uma jovem que acaba de passar no vestibular. A história de uma mulher que vai presa por defender seu filho de um cachorro.
Humana e tocante, ‘Justiça’ reúne quatro histórias, independentes, mas conectadas, que chegam ao público por meio da emoção. Escrita por Manuela Dias, com a colaboração de Mariana Mesquita, Lucas Paraizo e Roberto Vitorino, a minissérie tem direção artística de José Luiz Villamarim, e direção de Luisa Lima, Walter Carvalho e Isabella Teixeira. A obra estreia no dia 22 de agosto, com 20 capítulos e uma maneira intrigante de compor a narrativa. “Não é uma discussão forense. É uma provocação para o público. Saber o que é justo é uma questão particular”, pondera Villamarim.
O formato
Exibida de segunda a sexta-feira, com exceção de quarta, ‘Justiça’ pode ser descrita como um grande mosaico composto por quatro histórias distintas, mas intercaladas. Cada dia da semana será o momento de entrar na vida de um determinado núcleo e conhecer seus dramas e conflitos. Em comum, a cidade onde tudo acontece. A frenética Recife. “Os diálogos são muitos bons. A Manuela escreve com muita verdade e deixa o público muito próximo da trama. Isso é maravilhoso. E tem esse formato fascinante, que exige uma matemática na hora de cruzar as histórias para tornar a obra crível”, resume José Luiz Villamarim.
Os personagens
Elisa e Vicente
Às segundas-feiras, o público conhece a história de Vicente (Jesuíta Barbosa). Acostumado a uma vida de playboy em Recife, entre farras e atos inconsequentes, ele vê seu mundo desmoronar quando a empresa do pai, Euclydes Menezes (Luiz Carlos Vasconcellos) abre falência. Antenor (Antonio Calloni), um dos sócios de Euclydes na GTransportes, comete um desfalque de grandes proporções.
Intempestivo e controlador, Vicente não se conforma com a bancarrota e a ideia dos tempos duros que estão por vir. Como se não bastasse, a nova realidade deve adiar o casamento que ele acaba de propor à noiva, Isabela (Marina Ruy Barbosa). Fútil, a patricinha passa a reconsiderar os planos de uma vida em comum quando as vantagens financeiras do relacionamento com o herdeiro viram pó.
Mas antes de decidir pelo rompimento e ter a conversa definitiva com o noivo, Isabela se torna vítima de um crime passional. Ao flagrá-la nos braços do ex-namorado, Otto (Pedro Lamin), Vicente tira a vida da noiva na sala da casa dela. A mãe de Isabela, a professora Elisa (Deborah Bloch), que nunca viu o relacionamento dos dois com bons olhos justamente por causa do temperamento explosivo do futuro genro, assiste à cena, em choque.
Condenado por assassinato, Vicente passa sete anos preso. Mas, para uma mãe que perdeu a filha de maneira tão violenta, a cadeia não é castigo suficiente. Ao sair do presídio, ele já é casado com Regina (Camila Mardila), a prima de um detento que está disposta a ajudá-lo a recomeçar a vida. Os dois são pais de uma menina, curiosamente batizada como Isabela (Fabiana Ferreira). Mesmo tendo saldado sua dívida com a Justiça, ele terá de lidar com o inconformismo de Elisa (Débora Bloch), que planeja vingar a morte da filha.
Fátima e o casal Douglas e Kellen
Às terças-feiras, a trajetória da doméstica Fátima (Adriana Esteves) é acompanhada de perto. Mulher simples e de fibra, é casada com o motorista de ônibus Waldyr (Angelo Antonio), e mãe de Mayara (Leticia Salatiel / Julia Dalavia) e Jesus (Bernardo Berruezo/Tobias Carrieres). Moradora de uma periferia rural, ela considera a família seu maior bem. De uma hora para outra, entretanto, a vizinhança perde o sossego quando o encrenqueiro casal Douglas (Enrique Diaz) e Kellen (Leandra Leal) se muda para a casa ao lado. Ele é um policial de má índole, do tipo que não honra a farda que veste e se aproveita do poder para humilhar os outros. Ela é uma perua com um aguçado senso de sobrevivência e cujos defeitos superam as qualidades.
Por causa das invasões constantes do cachorro de Douglas no quintal de Fátima, o caso acaba passando de mera picuinha entre vizinhos para assunto de polícia com consequências inimagináveis. Depois de vários incidentes com patos e galinhas, o cão feroz morde o filho mais novo de Fátima. Tomada por instintos maternos protetores, ela não hesita e mata o animal. É uma tentativa desesperada de proteger o pequeno Jesus.
Mas, transtornado pela ira, Douglas não deixa por menos. Ele usa o poder de policial para armar um flagrante contra Fátima. Por causa disso, ela passa sete anos presa. Mas, quando conquista a liberdade, Fátima não pensa em vingança – só quer sua família de volta. Do lado de fora da prisão, ela encontra um mundo completamente diferente.
Waldyr (Angelo Antonio) está morto. Sem adultos por perto, Jesus (Tobias Carrieres) perambula pelas ruas com um bando de moleques, aplicando furtos. Já com 18 anos, Mayara (Julia Dalavia) agora é conhecida como Suzy e trabalha como prostituta no Snack Night Club, uma sauna administrada por Kellen (Leandra Leal). Com rancor decantado durante anos, o objetivo da jovem é vingar a prisão da mãe.
Débora e Rose
A história das quintas-feiras se desenvolve sobre uma grande amizade. Débora (Luisa Arraes), a filha da patroa, e Rose (Jéssica Ellen), a filha da empregada da casa, cresceram como amigas, quase irmãs. Uma estuda em escola particular e a outra, em escola pública. Rose mora com a mãe, Zelita (Teca Pereira), no quarto dos fundos da casa de Débora, mas isso nunca importou no cotidiano das duas jovens.
Na noite anterior ao seu aniversário de 18 anos, Rose recebe a notícia de que foi aprovada no vestibular para Jornalismo, e as adolescentes decidem comemorar num luau à beira-mar. Durante uma confusão entre frequentadores da festa, a polícia é chamada e separa os jovens a serem revistados – entre negros e brancos. Rose é pega com drogas, uma quantidade de substâncias que ela dividira pouco antes com Débora e outros amigos. Livre da revista, por ser branca, Débora assiste à cena de longe, sem ação. Não consegue reunir coragem para apoiar a amiga no momento da detenção.
Sob a acusação de tráfico, Rose tem a promessa de um futuro brilhante sequestrada e passa sete anos presa. Quando conquista a liberdade, não pode mais contar com sua mãe, que morreu no período em que estava atrás das grades. Sem mágoa, ela procura a amiga que parou de visitá-la na cadeia anos atrás. Rose encontra, então, uma nova Débora. Ela está casada com Marcelo (Igor Angelkorte), trabalha como professora de educação infantil e está tentando adotar um filho. Mas está longe de ser feliz: enquanto Rose estava presa, Débora foi vítima de um estuprador num beco escuro de Recife.
Agora em liberdade, Rose não pensa duas vezes ao estender a mão para Débora. Juntas, elas iniciam uma caçada para encontrar o homem que a violentou.
Maurício e Antenor
Maurício (Cauã Reymond) não vê outra saída para acordar de um pesadelo. Em 2009, ele vive um dos momentos mais felizes de sua vida, orgulhoso com a realização da mulher, Beatriz (Marjorie Estiano), bailarina que acabara de estrear um espetáculo de grande sucesso.
Mas não serão apenas momentos de glórias a cercá-lo. Na GTransportes, a empresa na qual atua como assistente de contabilidade, o proprietário, Euclydes (Luiz Carlos Vasconcellos), acaba de sofrer um golpe do sócio, o inescrupuloso Antenor (Antonio Calloni). O episódio se torna um grande escândalo nacional e ainda vai interferir de maneira trágica na vida de Maurício (Cauã Reymond). Em fuga com uma mala de dinheiro, Antenor ultrapassa um ônibus em alta velocidade e atropela Beatriz, que saía do teatro após mais uma de suas apresentações. Ele deixa a bailarina estendida numa avenida de Recife, sem prestar socorro. Maurício assiste à cena, incrédulo.
Ao acordar no hospital, Beatriz recebe uma notícia acachapante: está tetraplégica.
A bailarina decide que, se for para nunca mais voltar a dançar, não quer mais viver. E suplica a Maurício uma eutanásia, procedimento proibido no país. Atordoado pelo sofrimento de Beatriz, o marido cede ao apelo e acaba preso ainda no hospital. Julgado e condenado pela morte da mulher que tanto ama, ele passa sete anos na prisão.
Nesta reviravolta, a articulação de um plano para se vingar de Antenor vira o principal objetivo de Maurício. Quando deixa a prisão, já em dias atuais, o empresário segue impune e está em plena campanha para governador do estado de Pernambuco. Como parte de sua estratégia, Maurício se aproxima de Vânia (Drica Moraes), a instável candidata a primeira-dama. Aproveitando-se da carência dela, o contador tentará, a qualquer custo, fazer justiça com as próprias mãos.
As conexões
As tramas de ‘Justiça’ caminham independentes e paralelamente mas, quanto mais o espectador se aprofunda nelas, mais se torna capaz de entender as sutilezas de suas conexões. Um novo fato em uma das quatro tramas pode, por mais que pareça corriqueiro à primeira vista, se tornar uma pista importante no contexto de outro personagem.
Dessa forma, a narrativa se complementa entre protagonistas e coadjuvantes, que mudam de posição conforme a trama do dia. “Toda semana há um grande evento que une todas as histórias”, adianta a autora Manuela Dias.
Elisa (Débora Bloch), por exemplo, é patroa de Fátima (Adriana Esteves). Coadjuvante na história exibida às segundas, a doméstica é a dona de casa que tem seu caminho tranquilo interceptado pela crueza de Douglas (Enrique Diaz). E é ele mesmo, um policial preconceituoso, que não hesita em prender Rose (Jéssica Ellen), sob a acusação de tráfico de drogas.
Desde antes da prisão que mudou radicalmente sua vida, Rose mantém uma paquera com Celso (Vladimir Brichta), dono de um quiosque e sócio de Maurício (Cauã Reymond). O assistente de contabilidade trabalha para o pai de Vicente (Jesuíta Barbosa), noivo de Isabela (Marina Ruy Barbosa), filha de Elisa (Débora Bloch). Euclydes (Luiz Carlos Vasconcellos) é pai de Vicente, dono da GTransportes e sócio de Antenor (Antonio Calloni) que, em fuga, atropela a esposa de Maurício, Beatriz (Marjorie Estiano).
Esse emaranhado de ligações é reforçado pela autora, que construiu a minissérie amarrada por cenas que se repetem ao longo da exibição, mas sempre revelando pontos de vista de diferentes personagens. E assim, é possível passear por cada drama e experimentar as várias sensações que a reflexão sobre o que é justo pode trazer. “Criei uma trama no sentido de ter vários fios, que cercassem a percepção do justo. São histórias conectadas por um tema e uma cidade”, complementa a autora.
Crueza nas cores e nas formas
Quando o diretor artístico, José Luiz Villamarim, pôs os olhos no projeto de ‘Justiça’ imediatamente viu a força da narrativa. Além do texto preciso e instigante, uma dramaturgia com um desafiador. Para contar essa história na medida exata das palavras da autora Manuela Dias, a estética ideal para Villamarim precisava ter um firme compromisso: o realismo.
A minissérie começou a ser gravada em maio deste ano, em Recife, com parte do elenco. Adriana Esteves, Cauã Reymond, Enrique Diaz, Angelo Antônio, Julia Dalavia, Marjorie Estiano, Vladimir Brichta, Luisa Arraes, Jéssica Ellen, Jesuíta Barbosa e Drica Moraes são alguns dos atores que passaram por lá. “A geografia de Recife é horizontal e isso está muito relacionado com a minissérie. Aqui as pessoas se cruzam nas ruas. Recife é uma síntese do Brasil”, explica Villamarim. A história se passa na capital pernambucana e contempla diversas classes sociais.
Caracterizados com roupas que traduzem o espírito de Recife, das ruas, das pessoas que circulam pelo centro da cidade, os atores passaram por um processo de desconstrução. A encomenda foi de Villamarim, que pediu para deixar fora do set qualquer artifício que afastasse os personagens da realidade. Por isso, a equipe trabalhou com o mínimo de maquiagem e um figurino sem glamour. Nem mesmo as unhas as atrizes foram pintadas, à exceção das que trabalham no Snack Night Club.
Lu Moraes, a responsável pela caracterização dos atores, conta que antes de propor qualquer caminho, fez um levantamento para evitar que seus personagens se assemelhassem com antigos trabalhos dos atores envolvidos. Foi assim que nasceu a ideia de clarear os cabelos de Julia Dalavia e Vladimir Brichta, por exemplo. Lu abraçou o desafio proposto por Villamarim e passou a olhar para o elenco buscando o que é simples. “Aqui não há brilho, tampouco cabelos com cara de festa, tem gente com olheiras por noites mal dormidas. A história é fictícia, mas o que se sente ao conhecer os personagens é crível, humano, visceral”, esclarece Lu Moraes.
Outro desafio da caracterização foi transitar entre os anos de 2009 e em 2016. Como a gravação das cenas não segue uma ordem cronológica, a equipe precisou usar artifícios para deixar os personagens ora mais jovens, ora mais velhos – apesar da pequena passagem de tempo. Cauã Reymond ganhou mais fios brancos e óculos para aparentar mais idade. Luisa Arraes usou uma franja nas sequências em que mostram a sua adolescência. Além disso, uma questão crucial é que sobreviver em uma prisão por anos tira o frescor de qualquer pessoa. Adriana Esteves, por exemplo, ao aparecer nas cenas atuais, relevará uma pele maltratada pelo tempo, pela tristeza. Manchas foram aplicadas em seu rosto.
Muita coisa foi comprada em Recife, especialmente o figurino do núcleo de Fátima (Adriana Esteves). O que se buscou no comércio de lá foram peças que se assemelhassem com o tipo de estampa e material usado na região. Cao Albuquerque e Natália Duran assinam o figurino. “Trouxemos de Recife muita coisa feita com tecido sintético. O Cao foi a campo e eu fui às compras”, conta Natália. O texto de Manuela Dias, claro, foi o ponto de partida, mas o trabalho de composição desses personagens contou com uma pesquisa ampla, de campo, que levou os profissionais da produção a verem de perto como se comportam pessoas reais que se assemelham a esses personagens.
Das locações usadas em Recife aos cenários erguidos no Rio, a ordem também era a de criar ambientes reais. Em Pernambuco, muito pouco foi mexido nos locais escolhidos como cenários. Após sair da prisão, Vicente (Jesuíta Barbosa) vai viver em um apartamento simples, bem diferente de sua realidade antes de ser preso. O local escolhido foi um dos apartamentos do edifício Holiday, arquitetura colossal muito conhecida na cidade. Fabio Rangel, cenógrafo da minissérie, reforça que a equipe entrou no apartamento, onde vivia uma família, e não mexeu em quase nada. “Não tiramos nada do lugar. Eu fiquei bastante impressionado ao ver os atores circulando naquele cenário. É muito realista”, diz Fabio.
Trabalhando em parceria com a cenografia, Moa Batsow, responsável pela produção de arte, também andou afinado com essa estética, de buscar o que é real. Ele conta que comprou muito artesanato em Recife, peças que ajudaram a compor as casas recriadas nos Estúdios Globo. Moa confessa que também trouxe de viagem uma jangada, “para as cenas que acontecem no entorno do quiosque de Celso, personagem de Vladimir Brichta”.
Entrevista com a autora Manuela Dias
Com 20 anos de carreira, a baiana Manuela Dias vem se destacando na teledramaturgia. Formada em jornalismo pela Universidade Federal da Bahia e aluna do mestre Gabriel García Marquez na Escuela Internacional de Cine de Cuba, ela chegou a atuar em séries de televisão, mas optou pela carreira de autora de TV com seriados como ‘A Grande Família’ (2001-2014), ‘Fama’ (2002) e ‘Sandy e Júnior’ (1999-2002), e colaboradora de novelas de sucesso como ‘Cordel Encantado’ (2011) e ‘Joia Rara’ (2014). No início de 2015, foi destaque com a adaptação do clássico de Choderlos de Laclos ‘Ligações Perigosas’, minissérie exibida pela TV Globo no começo do ano. Com trajetória também no cinema, Manuela tem trabalhos premiados, como os roteiros dos longas-metragens ‘Deserto Feliz’ (2007), de Paulo Caldas, e ‘O Céu Sobre os Ombros’ (2010), de Sérgio Borges.
‘Justiça’ tem narrativa e formato inovadores. Como você classifica a minissérie?
‘Justiça’ defende uma ideia que desembocou nesse formato. Foi um casamento natural e necessário entre forma e conteúdo. É uma minissérie que conta quatro histórias independentes, porém interligadas. O formato funciona quase como uma lasanha: dá pra comer só uma camada de queijo e sentir o gosto, mas é comendo tudo junto que se tem a experiência do todo.
Como surgiu a ideia de uma narrativa tão incomum?
A partir de um caso verídico: a moça que trabalhava na minha casa me pediu ajuda porque o marido estava preso por ter matado o cachorro do vizinho. Aquilo me deu um estalo sobre a esfera pessoal da questão das leis e punições. Observar a vida daquela mulher à beira da devastação depois desse acontecimento jurídico me mobilizou e acendeu a chama da minissérie.
Perdão e arrependimento. Podemos afirmar que essas duas questões são essenciais nessas histórias?
‘Justiça’ não trata de leis ou processos jurídicos, mas sim do conceito de justo. O que é justo, certo ou errado sob o ponto de vista ético e moral e não sob o ponto de vista circunstancial ou social como as leis que variam com o tempo e de sociedade para sociedade. Perdão e arrependimento são questões satélites desse questionamento do justo, assim como a vingança. Justiça e vingança são conceitos que se misturam o tempo todo a depender do ponto de vista que olhamos para a questão.
‘Justiça’ traz histórias fortes. Você espera que a crueza das situações crie uma empatia especial com o público?
A dramaturgia sempre busca provocar a identificação por parte do público, porque sem identificação não tem transferência e o processo de experiência vicária não se dá. A ideia de criar histórias tem a ver com ampliar as nossas experiências, traçar uma trama fictícia, virtual, na qual as pessoas possam testar seus valores e limites sem necessariamente matar alguém, trair etc. Em ‘Justiça’, a linguagem realista, que flerta com o documentário, incentiva ainda mais essa identificação, mesclando o material ficcional com o que entendemos por realidade cotidiana.
A interligação entre os personagens é engenhosa e nada óbvia. Como foi esse processo?
Foi como tecer uma malha, fio por fio, criando um desenho. A brincadeira era justamente essa, investir no que chamei de cenas conjuntas, nas quais os personagens comungam um mesmo espaço.
Das quatro histórias, qual delas você aponta como sendo a mais difícil para o personagem em questão?
A pior injustiça é aquela que nos atinge. Quando estou contando a história de Elisa (Débora Bloch), que vê sua filha ser assassinada, acho essa a pior história. Quando me coloco sob o ponto narrativo de Fátima (Adriana Esteves), presa injustamente por sete anos, e isso causa uma diáspora familiar, acho que a dela é a pior história. Já quando estou escrevendo para Rose (Jéssica Ellen) e Débora (Luisa Arraes), uma jovem que foi estuprada, penso que essa deve ser a pior experiência, uma vez que mesmo que o estuprador seja preso, nada fará o tempo voltar atrás. Porém, quando passo para a história de sexta-feira, e vejo que Maurício (Cauã Reymond) acabou cometendo eutanásia na mulher que amava e por isso ficou preso e atado a um sentimento de vingança, acho que ele é o maior injustiçado.
Como se sentiu ao criar histórias tão humanas e tocantes? Como autora, chega a passar por um certo desgaste emocional?
Sou fascinada pela complexidade da vida. O feio e o pesado apontam naturalmente para o belo e o leve. A injustiça aponta para a justiça. Os conceitos caminham lado a lado com seus opostos. É essa oposição que delineia tudo. Eu sou definida por tudo que é não-eu. Escrever histórias pesadas traz a leveza na mesma proporção. Assim como escrever comédias pode ser deprimente. Pensar na morte nos liga à vida e não ao contrário.
O que há de mais desafiador em costurar todas essas histórias? De que maneira o formato da minissérie influencia no ritmo dos acontecimentos e dos diálogos?
Nessa minissérie, forma é conteúdo. Não são coisas que podemos pensar separadamente. A ideia do formato e a ideia das histórias nasceram juntas. O que é justo depende do ponto de vista em que vemos a questão, por isso, contar a história sob diversos ponto de vista é uma questão estrutural que explora o conteúdo trazendo uma nova forma narrativa.
Como foi o trabalho em parceria com o diretor artístico José Luiz Villamarim?
O Zé é um parceiro dos sonhos. Profundo no conteúdo e leve no trato. Uma pessoa de extremo bom gosto sem ser um esteticista. Para ele as imagens são geradas no conteúdo, que é sempre o ideal, porque imagem por imagem não conta história. E é isso que somos: contadores de histórias. Nos conhecemos já para esse trabalho. O Moa Batsow, diretor de arte, que é meu amigo e sempre trabalha com o Zé, apresentou ‘Justiça’ pra ele. Graças a essa extrema sensibilidade, o Zé viu nos textos os traços documentais, buscou na obra escrita os caminhos para a realização – isso gera um casamento perfeito entre roteiro e direção.
Entrevista com o diretor José Luiz Villamarim
Com três indicações ao Emmy International Awards no currículo – pelas novelas ‘Paraíso Tropical’ e ‘Avenida Brasil’ e o episódio em homenagem ao grupo Mamonas Assassinas do programa ‘Por Toda Minha Vida’ – José Luiz Villamarim assina a direção artística da minissérie ‘Justiça’. Mineiro, ele esteve à frente recentemente e com grande sucesso da novela das onze ‘O Rebu’ e das minisséries ‘Amores Roubados’ e ‘O Canto da Sereia’. Formado em Economia, também dirigiu obras icônicas da história da TV brasileira, como ‘O Rei do Gado’, ‘Torre de Babel’, ‘Anjo Mau’, ‘Irmãos Coragem’, ‘Mulheres Apaixonadas’, ‘Cabocla’, ‘Mad Maria’ e ‘Força-Tarefa’, entre outras.
Como você define ‘Justiça’?
É uma minissérie que trabalha com as emoções humanas no limite. E sobre o formato, o que a faz mais interessante é que, ao longo das quatro histórias, o espectador vai descobrindo como elas se cruzam. Isso acontece muito no que chamamos de cenas conjuntas, nas quais um ator que protagoniza uma trama aparece como figurante em outra. O encadeamento vai acontecendo aos poucos por meio da narrativa, e o público vai perceber que as quatro histórias podem se tornar uma só, independentemente de como são exibidas. Essa é a grande qualidade de ‘Justiça’.
Como tem sido dirigir os atores numa minissérie com esse formato?
Muitas vezes, a gente passa pela vida sem ter vivido questões tão dramáticas quanto às dos personagens da minissérie. No trabalho prévio de improvisação, os atores descobrem o que os personagens viveram, constroem a memória afetiva e a gente trabalha sempre com essa nuvem de emoção pairando sobre o set. Mas como essa memória é muito forte, não precisamos carregar nas tintas, e dirigir de maneira exacerbada. Pelo contrário, podemos conduzir de maneira muito mais simples e verdadeira, porque todos os atores têm dentro de si um conhecimento dos personagens e uma vivência das emoções suficientes para que o sentimento extrapole e chegue ao espectador.
Qual sua expectativa sobre a recepção da minissérie pelo público?
A ideia é fazer do formato um atrativo e não uma dificuldade. A cada dia, a cada cena conjunta que une personagens das quatro tramas, o público vai ganhar um presente: uma mesma situação será vista por vários pontos de vista. Hoje, por exemplo, estou conversando com você, mas não sei como você está me vendo. No capítulo de amanhã, verei o seu ponto de vista. E a cada repetição de cena, o público vai perceber algum detalhe novo. Há um entrelaçamento, uma teia que vai se formando aos poucos. A ideia é que o público se sinta descobrindo essas conexões junto com a gente.
Por que escolheu Recife para ambientar ‘Justiça’?
Acho bom também sair do eixo Rio-São Paulo e o Nordeste tem uma brasilidade potente, atávica. A geografia espacial de Recife ajuda a contar essa história. É uma cidade mais horizontal, espaçosa, o que transmite uma certa solidão. É um traço da cidade que ajuda a comunicar dramaticidade e melancolia. Acho que o Nordeste é uma síntese do Brasil, porque há um imbricamento ali, as relações de classe se confundem e até parece que as pessoas são mais íntimas. Isso é a cara de ‘Justiça’.
Qual a dinâmica das gravações. As histórias foram gravadas uma por vez?
Não fechamos história por história. Em primeiro lugar, a gente foi pra Recife porque, sempre que posso, gosto de começar pela viagem. Isso permite um processo de imersão dos atores. Quando a equipe sai de casa e fica num mesmo local, todos voltam suas energias, desejos e afetos para a realização de ‘Justiça’. É um método de trabalho. Outra coisa é começar por cenas mais complexas. É natural que no início de um trabalho haja uma concentração e uma insegurança, e todos esses sentimentos podem resultar num set muito vivo, com uma mistura de emoções que gosto de aproveitar.
Como foi a escalação do elenco?
Em ‘Justiça’, queremos que o espectador seja mais um ponto de vista na história. Ou seja, queremos que o público se sinta dentro desse jogo cênico. Por isso, quando fui escalar o elenco, tive a preocupação de priorizar nomes que o público identifica facilmente. Acredito que isso vai aguçar a curiosidade do espectador, para entender por que a Adriana Esteves (Fátima) passou ao fundo de determinada cena e não disse nada, como se fosse coadjuvante. Ou por que o Cauã Reymond (Maurício) passou ali e você nem reparou. O público vai juntar essas peças e compreender as histórias. Foi uma condução consciente, um conceito de escalação que criei para a minissérie.
Como está sendo a parceria com a autora Manuela Dias?
A Manuela é uma baiana arretada que olha para a vida sem filtros. Ela tem a capacidade de transformar algo cotidiano e próximo de todos nós em roteiro. E, no caso de ‘Justiça’, você acredita no roteiro, que tem uma pegada documental. Essa é a grande qualidade dela. Por isso, a opção de filmá-lo de maneira realista. Faço questão de manter boas parcerias, é algo que eu respeito. Tanto é que já estamos pensando em novos projetos.
Perfil dos personagens
História 1 – Segunda-feira:
Elisa (Débora Bloch) – Sua filha, Isabela (Marina Ruy Barbosa), foi assassinada há sete anos. Elisa é professora na faculdade de Direito há mais de 15 anos. Isabela tinha 18 anos quando foi morta pelo noivo ciumento, Vicente (Jesuíta Barbosa). Em busca de uma punição mais contundente do que os sete anos de reclusão, Elisa faz aulas de tiro com a intenção de matar Vicente no dia em que ele sair da cadeia. Ela leva uma vida dormente até conhecer e se apaixonar por Heitor (Cassio Gabus Mendes), reitor recém-empossado da universidade onde ela dá aulas.
Heitor (Cassio Gabus Mendes) – Culto, é o reitor da universidade em que Elisa (Débora Bloch) trabalha. Morou anos em Roma, até voltar ao Brasil, onde conhece e se apaixona por Elisa. Heitor acaba se envolvendo com Sara, uma aluna da universidade.
Isabela (Marina Ruy Barbosa) – É filha de Elisa (Débora Bloch). Tinha 18 anos quando foi assassinada. Linda e fútil. Ao saber que seu noivo Vicente (Jesuíta Barbosa) ficará pobre, ela passa a questionar o casamento. Isabela é flagrada traindo Vicente com um ex-namorado, Otto (Pedro Lamin). Morre vítima de um típico crime passional.
Vicente (Jesuíta Barbosa) – No começo da história, é muito rico, machista, típico “filhinho de papai”. É apaixonado por Isabela (Marina Ruy Barbosa) e a pede em casamento prometendo uma vida luxuosa. Como vive de excessos, tem sua identidade abalada pela falência do pai. Em plena crise, ele flagra Isabela com Otto (Pedro Lamin) e mata a namorada. Vicente fica preso por sete anos. Tempo bastante para se arrepender e se transformar.
Regina (Camila Mardila) – Prima de um detento, com quem Vicente (Jesuíta Barbosa) se casa ainda na prisão e tem uma filha, especialmente batizada como Isabela, mesmo nome da jovem que ele matou. Regina é mulher guerreira, de personalidade forte. Vive de vender empadas na praia e tenta fazer com que o marido retome a vida. Ela acredita que terá uma vida pacata em família assim que Vicente sair da cadeia. Porém, não sabe das surpresas que a esperam.
Otto (Pedro Lamin) – É rico, charmoso e engraçado. Namorou Isabela (Marina Ruy Barbosa) por dois anos e seguia apaixonado quando ela foi assassinada.
Euclydes Menezes (Luiz Carlos Vasconcellos) – Pai de Vicente (Jesuíta Barbosa), seu único filho. É honesto, rude e charmoso. Entrou como sócio capitalista na empresa de ônibus GTransportes, do amigo e compadre Antenor Ferraz (Antonio Calloni). Viveu 20 anos dos dividendos da empresa, sem nunca se preocupar com nada. Até que leva um golpe do sócio e vê sua empresa falir de repente. Para piorar, seu filho Vicente vai preso por matar a noiva. Sem dinheiro para contratar bons advogados e abandonado pela namorada interesseira, Euclydes morre sem ver o filho sair da prisão.
Téo Ferraz (Pedro Nercessian) – É filho de Antenor (Antonio Calloni) e representa o que há de pior na juventude aristocrática do Brasil. Muito charmoso, engraçado e atraente, é o tipo irresponsável. Ele publica um video de cenas íntimas de Vanessa (Giovana Echeverria) que vai desencadear uma grande crise entre alunos da Universidade.
Sara (Priscila Steinman) – É aluna de Elisa na universidade e amiga de Vanessa (Giovana Echeverria). Ela é bonita, inteligente e safada. Escreve um jornal na faculdade e se apaixona pelo reitor, Heitor (Cassio Gabus Mendes), com quem consegue ter um caso à custa de muitas armações, provocando ciúmes em Elisa (Débora Bloch).
Vanessa (Giovana Echeverria) – Caloura na universidade onde Elisa (Débora Bloch) dá aula. Entra em desespero quando descobre que todos os alunos receberam um vídeo seu em cenas íntimas com Téo (Pedro Nercessian) numa festa de alunos.
Silas (Claudio Ferrario) – É porteiro do prédio de Elisa (Débora Bloch).
História 2 – Terça-feira:
Fátima Libéria do Nascimento (Adriana Esteves) – Trabalha como doméstica na casa de Elisa (Débora Bloch) e vive bem com o marido, Waldir (Angelo Antonio), por quem é apaixonada. Tem dois filhos: Mayara (Leticia Salatiel / Julia Dalavia) e Jesus (Bernardo Berruezo/Tobias Carrieres). A família mora num sítio na periferia, onde cria patos, galinhas, um ganso e até uma vaca. A vida de Fátima é perfeita até o dia em que o policial Douglas (Enrique Diaz) e a namorada Kellen (Leandra Leal) se mudam para a casa vizinha com o cachorro Furacão.
Waldir (Angelo Antonio) – É motorista da empresa de ônibus GTransportes, casado com Fátima (Adriana Esteves) e pai de Mayara (Leticia Salatiel / Julia Dalavia) e Jesus (Bernardo Berruezo/Tobias Carrieres). Apesar de ser ótimo funcionário, Waldir tem sua vida destruída ao ser demitido após a falência da empresa, por conta de um golpe aplicado por Antenor (Antonio Calloni). É boa pessoa, mas tem um fraco por bebida, problema que se agrava depois que Fátima é presa.
Mayara Libéria do Nascimento (Leticia Salatiel / Julia Dalavia) – Durante os sete anos em que sua mãe, Fátima, fica presa, Mayara vira garota de programa na praia e acaba sendo recrutada por Kellen (Leandra Leal), que não a reconhece como filha da antiga vizinha. Mayara vai trabalhar na sauna Snack Night Club, de Maurício (Cauã Reymond) e Celso (Vladimir Brichta), sob a tutela de Kellen, com a intenção de se vingar pela prisão da mãe.
Jesus Libéria do Nascimento (Bernardo Berruezo/Tobias Carrieres) – É o xodó da família. Durante a prisão da mãe, ele se perde no mundo e passa a viver pelas ruas, formando um bando com Igor (Alex Patricio P. Filho) e Dez Porcento (Leandro Léo). Convivendo com Firmino (Julio Andrade), descobre que seu sonho é virar cantor.
Douglas (Enrique Diaz) – Policial, machão e completamente dominado por Kellen (Leandra Leal), sua mulher, por quem é completamente apaixonado. Douglas abusa do uniforme e conta com propinas pra complementar o salário. Ele tem um rottweiler enfurecido, Furacão, que é morto por Fátima (Adriana Esteves) e faz de tudo para se vingar, armando para mantê-la presa por sete anos. A vida de Douglas é arruinada quando Kellen o troca por Celso (Vladimir Brichta).
Kellen (Leandra Leal) – É linda, gostosa e sabe disso. Kellen adora arranjar encrenca e sempre coloca “seu macho”, Douglas (Enrique Diaz), pra resolver suas confusões. Tem sua própria filosofia de vida, é esperta, charmosa e sabe dançar de acordo com a música, por isso abandona Douglas, trocando-o por Celso (Vladimir Brichta).
Firmino (Julio Andrade) – De dia, ganha a vida como mestre-de-obras numa grande empresa. À noite, é cantor e violeiro. É irmão de Osvaldo (Pedro Wagner), com quem não se relaciona desde que o irmão estuprou uma adolescente na cidade do Interior onde eles nasceram. Solteiro, vai se apaixonar por Fátima (Adriana Esteves) quando ela sair da prisão.
Irene (Clarissa Pinheiro) – Vai conquistar Douglas (Enrique Diaz) graças aos seus dotes culinários, depois que ele for abandonado por Kellen (Leandra Leal).
Dez Porcento (Leandro Leo) – Vive e trabalha na praia fazendo bicos e praticando pequenos furtos. É parceiro de Jesus (Tobias Carrieres) e Igor (Alex Patricio Filho) durante o tempo em que Jesus vive como menino de rua.
Igor (Alex Patrício Filho) – Também vive pelas ruas de Recife e é parceiro de Jesus (Tobias Carrieres) e Dez Porcento (Leandro Leo) na luta diária pela sobrevivência.
Falcão (Márcio Fecher) – Policial corrupto amigo de Douglas (Enrique Diaz).
Jeferson (Glauber Rocha) – É policial e vai extorquir Fátima (Adriana Esteves), cobrando quentinhas que ela vende como propina para “liberar” o ponto em frente à obra na qual Firmino (Julio Andrade) trabalha.
Hans (Nicholas Bauer) – É um turista alemão que vai se apaixonar por Mayara (Júlia Dalavia).
História 3 – Quinta-feira:
Débora Carneiro (Luisa Arraes) – Quando era adolescente, tinha um estilo alternativo e espírito combativo, herança da mãe, Lucy (Fernanda Vianna), jornalista. Débora cresceu considerando Rose (Jessica Ellen), a filha da empregada, como uma irmã. Sua vida muda quando ela se vê de mãos atadas diante da prisão de Rose, que portava entorpecentes numa festa à beira-mar. Por ser negra, a jovem é revistada pela polícia. Acusada de tráfico, passa sete anos presa. Anos depois, Débora conhece Marcelo (Igor Angelkorte), por quem se apaixona. Porém, a vida tem outra armadilha para ela: um estupro em pleno Carnaval. A polícia nunca prendeu o estuprador – Osvaldo (Pedro Wagner), irmão de Firmino (Julio Andrade). Quando Rose sai da cadeia, propõe à amiga que elas encontrem o estuprador. E o objetivo de Débora passa a ser fazer justiça com as próprias mãos.
Rose Silva dos Santos (Jessica Ellen) – É negra, filha da empregada Zelita (Teca Pereira) e foi criada na casa de Lucy (Fernanda Vianna), patroa de sua mãe, ao lado de Débora. Dedicada, passou no vestibular para Jornalismo e tinha um futuro brilhante pela frente. Porém, num luau, Rose e Débora estão, como todos os outros jovens, se divertindo, quando a polícia chega. Rose é revistada pelo policial Douglas (Enrique Diaz), que encontra drogas em suas roupas. Condenada, passa sete anos na cadeia. Quando sai, sua mãe Zelita já morreu e ela não tem mais ninguém no mundo. Ao descobrir que a amiga de infância foi estuprada, Rose decide ajudá-la a encontrar o estuprador.
Zelita Silva dos Santos (Teca Pereira) – Trabalha como doméstica na casa de Lucy (Fernanda Vianna) desde antes de Rose (Jessica Ellen) nascer. Neta de uma escrava, ela mal contém o orgulho quando a filha passa no vestibular de jornalismo. Quando a filha é presa, Zelita culpa Débora e deixa o emprego. Morre sem ver a filha sair da prisão.
Lucy Carneiro (Fernanda Vianna) – É separada há anos e criou Débora (Luisa Arraes), sua única filha, com a ajuda da empregada Zelita (Teca Pereira). Lucy é uma jornalista que investiga a crise da empresa de ônibus GTransportes e as falcatruas de Antenor (Antonio Calloni).
Marcelo Cavalcante (Igor Angelkorte) – Ele se casa com Débora (Luisa Arraes), cinco anos depois da prisão de Rose (Jessica Ellen). Marcelo trabalha com informática e faz o estilo certinho. Não aprova a volta de Rose para a casa deles e se recusa a participar da busca pelo estuprador de Débora.
Osvaldo (Pedro Wagner) – É pintor de fachadas numa grande firma. Desequilibrado e problemático, comete estupros desde a adolescência, entre eles o de Debora. Osvaldo é irmão de Firmino (Julio Andrade), mas os dois não se relacionam.
História 4 – Sexta-feira:
Maurício Pereira (Cauã Reymond) – No início da trama, ele trabalha como assistente de contabilidade da empresa GTransportes e é casado com Beatriz (Marjorie Estiano). Maurício é apaixonado pela mulher e cheio de planos para os dois. Porém, tudo muda quando Beatriz é atropelada por Antenor (Antonio Calloni) e fica tetraplégica. Beatriz implora a Maurício por uma eutanásia. Apesar do sofrimento que isso lhe traz, Maurício acata a decisão da mulher e acaba preso. Na cadeia, suas habilidades em contabilidade servem para os bandidos se organizarem. Maurício usa o dinheiro que ganha na prisão para abrir um prostíbulo com Celso (Vladimir Brichta).
Antenor Ferraz (Antonio Calloni) – Ele é sócio de Euclydes (Luiz Carlos Vasconcellos) na empresa de ônibus GTransportes e dá um golpe que leva a empresa à falência, mas o deixa rico. Político, não tem escrúpulos nem caráter. É pai de Téo (Pedro Nercessian), um playboy irresponsável, e casado com Vânia (Drica Moraes), uma alcoólatra deprimida que serve de “laranja” em diversos de seus negócios ilícitos. Depois do golpe na empresa GTransportes, Antenor foge para o Exterior com todo o dinheiro roubado. Quando o crime prescreve, ele volta ao Brasil com o filho e retoma sua vida de falcatruas, com o objetivo principal de se tornar governador do Estado.
Celso (Vladimir Brichta) – Faz o estilo surfista e trabalha num quiosque na praia. Vende sucos, sanduíches, drogas e ainda dá conselhos aos clientes, sempre com humor e charme. Celso é apaixonado por Rose (Jessica Ellen) e, volta e meia, os dois namoram. Com a ascensão de Maurício (Cauã Reymond) na cadeia, Celso também expande os negócios e vira sócio no prostíbulo Vênus Night Club. Celso vai se envolver com Kellen (Leandra Leal), que vira gerente da sauna, mas sua verdadeira paixão é Rose.
Beatriz Pugliesi (Marjorie Estiano) – No começo da história, é casada com Maurício (Cauã Reymond) e primeira bailarina de um grupo de dança moderna. É obsessiva e talentosa. Depois de ser atropelada por Antenor (Antonio Calloni) na saída do teatro, fica tetraplégica. Não suporta a ideia de viver paralisada e convence o marido a praticar eutanásia.
Vânia Ferraz (Drica Moraes) – É casada com Antenor (Antonio Calloni). Tinha o sonho de ser cantora, mas abandonou a carreira quando se casou. Esquecida pelo marido, que a trai com qualquer tipo de mulher, Vânia cai em depressão e se torna alcoólatra. Com grande frequência, assina sem ler documentos de negócios ilícitos do marido, desconhecendo a gravidade de tais atos.
Tânia (Mayara Millane), Lovilace (Joana Gatis), Ariel (Mariah Teixeira) e Kika (Mohana Uchoa) – Prostitutas que trabalham na sauna Snack Night Club. Tânia arrasa nos shows de dança, Lovilace é conhecida apenas como Lóvi, Ariel sonha em ser atriz e Kika tenta se dar bem com algum cliente poderoso.
Poltergeist (Nataly Rocha) – É garota de programa na praia e trabalha fazendo ponto em frente ao quiosque do Celso (Vladimir Brichta). É cúmplice de Douglas (Enrique Diaz).
Serge (Albert Tenório) – Trabalha como porteiro e segurança na sauna de Maurício (Cauã Reymond) e Celso (Vladimir Brichta), a Vênus Night Club.