Faleceu em Jundiaí o produtor de vinhos Nivaldo Fontebasso, o “Nino”, aos 89 anos. Ele teve quatro filhos.
O corpo de Nino está no Velório Municipal do Centro e o sepultamento agendado para às 14 horas no Cemitério Nossa Senhora do Desterro. A Adega e restaurante não abrem neste domingo (18).
Nino, como era conhecido, dizia que era feliz e “quem não vive feliz, não vive a vida”.
Nivaldo é de uma geração de agricultores e produtores de vinhos artesanais que conseguiram sobrevier da uva. Ele chegou a vender sua produção em São Paulo, ganhando referência no mercado paulistano, enquanto os filhos trabalhavam na adega no bairro do Caxambu.
A história da família
A família Fontebasso teve origem em 1887, na época das imigrações italianas, Santo Fontebasso, veio da região de Vêneto (Itália) para o Brasil em busca de melhores oportunidades. Com 18 anos e solteiro na época, conseguiu emprego em uma fazenda de café no município de Itatiba. Trabalhando como carpinteiro, juntou um conto de réis e resolveu retornar para a Itália com o dinheiro. Então, ele veio para Jundiaí tirar seu passaporte para voltar à sua terra natal. Na estação de trem, encontrou um amigo, que perguntou o que ele fazia em Jundiaí. Santo contou sobre seus planos e da saudade que sentia de seu país. Seu amigo ficou surpreso, pois ele chegou a passar fome na Itália e as coisas não tinham mudado muito por lá. Logo, perguntou se ele não gostaria de comprar um sítio que estava à venda no bairro do Caxambu. Ele foi conhecer o terreno e viu que tinha uma várzea muito grande, aonde poderia plantar uva e produzir seu próprio vinho. Ele comprou o terreno, que só possuía uma casinha de pau a pique, e veio morar aqui com a sua esposa, Matilde Paschoalotto, dois filhos, seus pais e sogros. Usou o que havia sobrado do dinheiro para criação de animais e plantações, como alguns pés de Uva Isabel, uma das primeiras variedades que existiram no Brasil. Após 5 anos ele conseguiu fazer o seu primeiro vinho, produzindo cerca de 80 litros. Ele dizia orgulhoso: “Agora estou rico! Tenho o meu vinho para beber!”
Em 1917, construíram a primeira casa no sítio, a família foi aumentando e a produção também. Nas décadas de 1930 a 1940, produziam em torno de 50 mil litros de vinho por ano. “Santo bebia tanto vinho que dizem que chegava a escorrer pela boca. Tem várias histórias engraçadas, como uma vez que ele entrou na casa, deitou em cima da mesa da cozinha e se cobriu com a tolha da mesa, achando que estava no quarto.” O vinho produzido pela família era levado de carroça para a estação de trem e então seguia para São Paulo, onde era vendido. Antônio, um dos nove filhos de Santo, era o responsável por essa logística. Como esse processo era caro e trabalhoso, e vender uvas de mesa era mais vantajoso do que vinho, ainda mais depois de surgir a uva Niágara Rosada, nos idos de 1933 ( espécie esta que surgiu em Jundiaí) passaram a focar mais no cultivo de uvas de mesa. Apesar de produzir muito mais uvas de mesa, a família continuava a produzir vinho, dos quais, metade era vendido para turistas de São Paulo e o que sobrava era consumido pela própria família.
Aos 18 anos, por volta de 1980, o neto de Antônio Fontebasso, Rodinei, também começou a trabalhar na produção de vinho. Enquanto seu pai, Nivaldo, ia vender uva em São Paulo, aprendia os processos da produção do vinho com sua mãe, seus vizinhos e seu pai quando ele retornava das vendas. Em 2001 foi organizada a Festa do Vinho Artesanal no Caxambu, que reuniu diversos produtores da região e motivou a criação da Adega Fontebasso. Após esse evento, se reuniram e resolveram melhorar o seu produto, que na época não seguia um padrão. Um ano depois foi formada a AVA, Associação do Vinho Artesanal, e em 2008 formou-se uma cooperativa que regularizou o processo produtivo das adegas participantes, organizou treinamentos e elevou muito a qualidade do vinho produzido. Atualmente são cerca de 13 produtores cooperados que tem todos os seus produtos regularizados e registrados junto ao Ministério da Agricultura. Há inclusive uma química responsável pela análise constante do vinho, garantindo que está dentro dos padrões.
A Adega produz vinhos artesanais, o que garante o máximo de cuidado e pureza, sendo a produção 100% familiar (uvas e vinhos produzidos 100% no sítio, (com exceção do vinho Bordô) e gerando cerca de 4 a 5 mil litros por ano. “O que a gente faz aqui é algo que fizemos a vida toda e aprendemos a amar. Nós não queremos perder isso, as plantações, esse jeito simples de viver e a vontade grande de poder partilhar um pouco daquilo que temos, desse amor à terra, ao vinho e a comida que a família sempre produziu. A mensagem maior que podemos transmitir é a alegria de poder receber uma pessoa aqui. Aliás, ficamos muito felizes quando o pessoal vem aqui e queremos receber da melhor forma possível.”
Nos idos de 2012 surgiu a idéia de um local para receber os turistas, visto que o turismo começou a crescer em nossa região, o que acabou se transformando na idéia de um restaurante rural, para que nosso amor não apenas pelos vinhos e pelas uvas fosse também apresentado aos turistas em forma da nossa culinária, assim nasceu o Restaurante Sítio Fontebasso e desta forma podemos compartilhar os amores de todos os imigrantes italianos (uvas, vinhos e comidas) com todos.
Em 19 de Janeiro de 2019 foi inaugurado o Restaurante Sítio Fontebasso, idealizado e comandado pelo Vitor Fontebasso, o quinto na geração desta família tradicional na cidade de Jundiaí.
Foto: Álbum de Família
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