CIDADESPOLÍCIA

Advogado diz que promotores do GAECO prenderam guarda inocente

O guarda municipal de Várzea Paulista, Wilde Nery, com 32 anos de profissão, foi preso em operação promovida pelo GAECO (Grupo Especial de Combate ao Crime Organizado), formado pela elite dos promotores de Justiça do Estado de São Paulo. Durante meses os promotores interceptaram conversas telefônicas do suspeito, e em 10/12/2021 pediram ao juiz sua prisão. Com base nas informações da investigação, o juiz determinou a prisão temporária do suspeito, baseando sua decisão em três conversas que comprovariam seu envolvimento com o crime organizado.

O guarda, que é casado e pai de três filhos (o mais novo com seis anos de idade), foi solto em 21/02/2022 pelos desembargadores do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo graças a uma liminar que foi deferida em um habeas corpus.

Inconformado com a injusta acusação, o guarda contratou uma empresa para realizar a perícia das gravações, para confirmar a autenticação das vozes.

Depois de uma longa espera, o resultado: não é sua voz em nenhuma das conversas que comprovariam seu envolvimento com o crime.

“A sensação é a melhor possível”, afirmou o guarda Wilde depois da confirmação do resultado pela perícia.

“Quem me conhece sabe que sempre cumpri a lei, que nunca me envolvi com coisa errada. Mas a verdade é que fui acusado injustamente. Contando com a ajuda dos amigos e dos colegas da guarda consegui contratar uma empresa especializada em perícia de voz, o que não é barato, e consegui provar minha inocência. E quem não tem condições de contatar advogado? E quem não tem condições de pagar uma perícia?” completou o guarda, que agora espera que o juiz se manifeste sobre o resultado da perícia que já foi juntada no processo.

Para o advogado do guarda, Dr. Vladimir Polízio Júnior, o caso revela mais um erro do judiciário: “Várias conversas foram interceptadas, e a maioria delas era do guarda Wilde mesmo. Entretanto, o Ministério Público apresentou uma tese fantasiosa de que ele teria usado outras linhas para atividades criminosas, e foram nessas conversas interceptadas com linhas que não são, e nunca foram dele, que teriam surgido as conversas que estariam relacionadas ao crime organizado. Bem, a perícia comprovou o que qualquer pessoa percebe só de ouvir os áudios, que as vozes são absolutamente diferentes. Lamentável essa situação por todos os aspectos, pois é lamentável que uma pessoa inocente seja presa, quanto mais que passe 72 dias preso, acusado injustamente de algo que não compete. Mas é mais absurdo ainda que esse erro tenha sido competido pela elite do Ministério Público paulista, que são os promotores e promotoras de justiça que trabalham no Gaeco, que é um grupo especializado, pois coloca em dúvida o trabalho realizado em outras tantas operações similares”.

Comida estragada

O guarda municipal enviou um relato ao “Jornal da Região” sobre os dias em que ficou preso. Até comida estragada serviram no Centro de Detenção.

“Dia 10/12/2021. Jamais será esquecido em minha vida e de minha família, fui injustiçado pelo Ministério Público do Estado de São Paulo junto ao GAECO de Campinas, pois fizeram uma investigação equivocada e malfeita referente a minha pessoa. Graças a Deus tive ajuda de minha Família e colegas, financeiramente para conseguir pagar um laudo pericial – que é muito caro -, para provar que tal escuta telefônica não era a minha voz, que nem meu número era!

Chegando na prisão fui humilhado pelos agentes penitenciários, fiquei em um lugar com cheiro ruim, sujo, um lugar precário, onde nenhum um INOCENTE deveria ficar, até mesmo outro qualquer do Povo não merecia, chegando lá fui receber uma alimentação depois de um dia , e quando recebi essa tal alimentação estava cheio de bigatos e acabei não comendo, embora naquele ponto já estava debilitado “fraco” com muita fome e assim foi por 72 dias e perdi aproximadamente 20 kilos , as vezes a comida vinha com bigatos outras vezes vinha com sujeira e com cheiro de azedo , mas tinha que comer para sobreviver ! eu chorava muito pedindo a Deus que me ajudasse provar que a tal pessoa não era eu, fiquei doente por 2 semanas e ninguém me levou ao médico, achei que ia morrer, não conseguia dormir com baratas e ratos no local, um dia acordei com um rato em cima de mim foi 72 dias de pesadelo que nunca imaginei eu em um lugar desse inocente.
Hoje me encontro doente a base medicamentos antidepressivos, meu filho desenvolveu uma Síndrome do Pânico minha esposa está com depressão também, minha filha de 7 anos acorda chorando frequentemente, destruíram a vida de um trabalhador honesto e digno.
Quero justiça! quero que a lei seja cumprida! quero uma resposta do GAECO e o Ministério Público sobre essa prisão equivocada, quero ajuda de uma autoridade maior que possa fazer a lei ser cumprida.”